Geoglifos do Acre: A Amazônia Pré-Colonial Reescrita

🌎 Por Hailton Aiala , 24 de outubro

Rio Branco, Acre – Uma das maiores e mais intrigantes descobertas arqueológicas do Brasil está escondida, à vista, na paisagem do Acre: os Geoglifos do Acre. Essas monumentais estruturas de terra, escavadas em formas geométricas perfeitas como círculos, quadrados e outras figuras complexas, estão reescrevendo a história da Amazônia, revelando a existência de sociedades complexas e organizadas que habitaram a região há mais de mil anos.

 

Mais de 400 Estruturas Reveladas pelo Desmatamento

 

Identificados a partir de meados da década de 1970, mas sistematicamente estudados apenas a partir dos anos 2000, os geoglifos se tornaram mais visíveis com o avanço do desmatamento na região. Atualmente, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) tem catalogados mais de 410 estruturas de terra espalhadas por cerca de 300 sítios arqueológicos, concentrados principalmente nas áreas de interflúvios entre os rios Acre e Iquiri.

Esses desenhos variam em tamanho, podendo atingir até 385 metros de diâmetro/lado, e são formados por valetas com profundidades médias de 1,40 metros e larguras que chegam a 20 metros.

“A mata, que pensávamos ser floresta virgem, tem se revelado, na verdade, como zelosa guardiã da Pré-história do Acre.” — Pesquisador do IPHAN.


 

Mistério e Função: O Enigma dos Povos Antigos

 

A cronologia das estruturas é antiga, remontando a um período entre 3.000 anos a.C. e 1.000 anos d.C.. Os povos que as construíram demonstravam grande habilidade técnica e organização, desmistificando a ideia de que a Amazônia era hostil ao desenvolvimento de grandes civilizações pré-coloniais.

A grande questão que ainda intriga a comunidade científica é a função exata dos geoglifos. Embora não haja um consenso, as principais conjecturas indicam que as estruturas serviam como:

  • Espaços Cerimoniais e Rituais: Locais para encontros sociais e rituais coletivos, e não como aldeias ou locais de moradia permanente, visto que a maioria dos assentamentos das populações antigas não eram encontrados no interior das estruturas.
  • Marcadores Simbólicos: Expressões sociais e simbólicas que indicam uma profunda relação cultural com a paisagem e o meio ambiente.

Cerâmicas e outros artefatos encontrados nas escavações sugerem a utilização dos sítios por grupos indígenas que dominaram a região antes da chegada dos colonizadores.


 

Esforços de Preservação e Potencial Turístico

 

A importância dos geoglifos é inegável, sendo considerados Patrimônio Cultural do Estado do Acre. Esforços de preservação estão em curso, com alguns sítios, como o famoso Jacó Sá em Rio Branco, sendo tombados pelo IPHAN em 2018.

Atualmente, o conjunto de geoglifos do Acre está na Lista Indicativa a Patrimônio Mundial da UNESCO, um passo crucial para o reconhecimento internacional e o reforço das políticas de proteção.

O potencial turístico arqueológico da região tem crescido, com projetos em estudo para a construção de mirantes e estruturas de visitação, a fim de permitir ao público a apreciação dessas obras milenares, que só podem ser plenamente visualizadas do alto.

  • Sítio Jacó Sá: Um dos mais famosos, composto por dois quadrados, um contendo um círculo.
  • Sítio Tequinho: Reconhecido internacionalmente, com dois grandes quadrados e trincheiras triplas.

Os geoglifos do Acre não são apenas valetas na terra; são as páginas de uma história esquecida que a Amazônia começa a nos contar, desafiando concepções antigas e exaltando a complexidade das culturas pré-coloniais brasileiras.

 

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