O Carbono como Moeda Política na Amazônia: Entre a Crise Climática e a Soberania Nacional

Rio Branco, AC — 30 de Outubro de 2025

Por Hailton Aiala,

A Amazônia, o maior reservatório de carbono tropical do mundo, está no centro de uma complexa teia política e econômica onde a crise climática global e os interesses de mercado se cruzam. A discussão sobre o destino da floresta, que se intensifica com a proximidade da COP30 em Belém (2025), não é mais apenas ambiental, mas profundamente política, com o carbono — a chave para a regulação do clima — funcionando como uma poderosa “moeda” internacional.

O Risco da Perda de Carbono e a Ação Governamental

Estudos recentes alertam para o risco iminente de a Amazônia perder drasticamente sua capacidade de captura de carbono se o desmatamento não for contido de forma eficaz. A Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG) projeta que a floresta pode deixar de capturar bilhões de toneladas de CO2 até 2030, um cenário que aceleraria o aquecimento global.

A resposta política a essa ameaça envolve:

  1. Metas Nacionais de Desmatamento Zero: A política de combate ao desmatamento é a principal ferramenta para proteger as reservas de carbono. O sucesso ou fracasso dessas metas tem um impacto direto na credibilidade do Brasil no cenário internacional.
  2. O Papel do Financiamento Climático: O Brasil e outros países amazônicos buscam reconhecimento e compensação financeira por manterem a floresta em pé. Mecanismos como o REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) e o Fundo Amazônia são cruciais para financiar a fiscalização e o desenvolvimento sustentável.

O Mercado de Carbono: Oportunidade e Conflito

A criação de um mercado de carbono, tanto regulado (sob regras governamentais) quanto voluntário (negociado entre empresas e projetos), transforma o carbono armazenado na floresta em um ativo econômico. Estima-se que o potencial de crédito de carbono na Amazônia Legal possa ultrapassar US$ 10 bilhões nos próximos anos, conforme a Agência Brasil.

No entanto, este mercado está repleto de desafios políticos e éticos:

  • Soberania vs. Venda de Ativos: Há um debate central sobre quem tem o direito de negociar esse “crédito”. O governo federal busca centralizar e regulamentar as negociações, o que coloca em conflito a busca dos estados e das comunidades tradicionais por acordos diretos.
  • A “Adicionalidade” e a Integridade: Projetos de carbono precisam provar que o desmatamento evitado ou a restauração florestal só ocorreram por causa do investimento (a chamada “adicionalidade”). Há denúncias de que alguns projetos podem estar beneficiando infratores ambientais ou vendendo créditos que não representam reduções reais, minando a confiança no mercado.
  • Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais: Esses grupos, que são os verdadeiros guardiões da floresta, lutam pelo direito de serem consultados e de receberem diretamente os benefícios dos projetos de carbono em seus territórios, evitando a terceirização de grandes áreas para empresas sem transparência.

A COP30 e o Futuro Político da Amazônia

Com Belém sediando a Conferência do Clima da ONU (COP30) em novembro de 2025, o Brasil assume o palco global para a definição do futuro da Amazônia.

  • O evento é visto como a oportunidade de ouro para o país demonstrar liderança climática, vinculando a conservação da floresta à justiça climática e ao desenvolvimento socioeconômico regional.
  • Um dos pontos-chave de negociação internacional que pode ser finalizado na COP30 é a regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris, que trata das regras para o mercado global de carbono.

O carbono, invisível e vital, tornou-se o elemento central de uma intensa disputa geopolítica: o Brasil e os países amazônicos defendem sua soberania enquanto buscam financiamento global, e o mundo exige a garantia de que a floresta, essencial para o equilíbrio climático do planeta, será de fato protegida. A solução, segundo especialistas, passa necessariamente pela união entre a ciência, o respeito aos povos tradicionais e uma governança transparente.


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